Seu valor

Na primeira sessão depois que me separei, disse para minha terapeuta que eu não entendia por que eu sabia, racional e conscientemente, o tanto de dificuldades do meu ex com elementos básicos de um relacionamento e, mesmo assim, durante a dinâmica, eu não queria terminar.

Eu tinha muitas insatisfações com relação a ele, mas eu me questionava, diariamente, se não era algo contornável, se eu não estava exigindo demais, se eu não poderia resolver isso depois.

E fui deixando. Hoje, até acho que porque realmente meu sentimento era grande por ele; o problema é que, com o tempo, o tratamento dele foi piorando e as negligências e as omissões foram ficando cada vez mais gritantes e eu, cada vez mais passiva.

A resposta da minha terapeuta para a minha pergunta foi muito simples: por que você o viu te tratando dessa forma e não decidiu ir embora? Porque você não vê o seu valor.

Na hora, foi um mini baque. Daqueles que a gente não entende bem suas nuances e fica pensando: “não vejo meu valor? Caramba, acho que isso é muito ruim! Vou pensar sobre isso.”

Os dias foram passando como uma montanha russa, como a maioria dos términos. Primeiro, eu não comia e achava que minha vida tinha acabado porque achava que tinha perdido o amor da minha vida, depois fiquei desesperada por não tomar uma decisão profissional, depois comecei a enxergar quem ele foi comigo durante o relacionamento e como ele me fazia sentir sobre mim mesma.

Quando cheguei nessa última fase acima, achei que estava com quase tudo resolvido. Até que cheguei à fase atual, de ouvir músicas românticas.

Eu me proibi de fazer isso no início, por medo de cortar os pulsos em alguma batida mais melodramática. A dor já era muito grande pra suportar.

Hoje, dois meses depois, sinto-me sã suficiente para ouvir uma música romântica, dar uma chorada e dormir, mas acho que, na verdade, regredi um pouco. Isso porque essa atitude faz com que você volte a pensar obsessivamente na pessoa e volte a relembrar dos momentos bons, enquanto todo o lixo que ele fez você se sentir é negligenciado.

Aquele seu aniversário – o primeiro de vocês juntos – que caiu em um sábado e porque a chefe dele disse que talvez fosse precisar dele, ele só chegou à sua casa de noite, tendo ficado o dia inteiro em casa olhando pro teto.

Aquela vez em que vocês discutiram em uma festa e, sem querer, você esbarrou nele, quando ele segurava suas mãos, e ele saiu fazendo exposição de figura na festa se fazendo de vítima para todos. Aliás, tapa na sua cara mental agora é o que eu quero te dar de você não ter virado as costas e ter dado tchau a ele naquele momento.

Aquelas milhões de vezes que você tentou organizar uma viagem com ele e ele sempre te levou na flauta, decidindo viajar com a família na mesma ocasião, quando você não poderia ir.

Aquela vez que você passou semanas virando a noite para comprar ingresso para a Copa e ele simplesmente foi sem você, sabendo que você é alucinada por Copa.

Aquela vez que você se formou em uma pós graduação de 3 anos dificílima, decidiu não ir na cerimônia, mas sim fazer um jantar em casa, e ele decidiu que tinha que ir correr bem na hora da comemoração.

Aquela vez que você tentou viajar com ele pra uma cidade diferente aqui do lado e ele disse que vocês não tinham como fazer isso.

Aquela vez que você se alterou com uma menina em uma festa e ele te acordou no dia 1o de janeiro e terminou com você, fazendo chacota de você para todos os amigos.

Já posso parar por aqui ou preciso lembrar mais?

Minha querida, realmente sua terapeuta tem razão: você não tem o menor senso de valor próprio se ainda estimula lágrimas por um ser humano desses.

Presente do universo, foi o que aconteceu na sua vida! Não seja ingrata, como ele foi ao te despojar, abrace o acontecimento divino e vá ser feliz com tudo isso que você é, independentemente de ele ter reconhecido ou não.

A vida te dá a chance inestimável de criar uma nova você! Decida você pela antiga ou nova você, a decisão, mais do que nunca, é só sua, e já que você, graças a Deus, não tem mais que conviver com negligências e desrespeitos na vida real, muito menos, ainda, no plano das ideias.

Aproveite-se!

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